Desistir não é perder
Uma experiência difícil, o exemplo de um amigo ou uma conversa com
alguém que admiramos podem servir de inspiração para mudarmos nossa maneira de
encarar a vida. Minha inspiração veio da minha irmã Vicki. Ela era uma pessoa
gentil e carinhosa, não ligava para elogios e tudo o que queria era
compartilhar seu amor com as pessoas de quem gostava: sua família e seus
amigos.
No último verão, antes do meu primeiro ano de faculdade, recebi um
telefonema do meu pai dizendo que Vicki tinha sido internada de emergência. Ela
tinha passado mal e o lado direito do seu corpo estava paralisado. Os primeiros
sintomas indicavam que ela poderia ter sofrido um derrame. No entanto, os
resultados dos testes mostraram algo muito mais sério: a paralisia era
consequência de um tumor maligno no cérebro. Os médicos não davam a Vicki mais
de três meses de vida. Fiquei completamente arrasado. Como aquilo podia estar
acontecendo? No dia anterior, minha irmã estava bem, não sentia nada, era uma
jovem saudável. Agora, estava entre a vida e a morte.
Depois de superar o choque inicial e o sentimento de vazio, decidi que
Vicki precisava de esperança e incentivo. Ela precisava de alguém que a fizesse
acreditar que poderia superar aquele obstáculo. Resolvi ajudá-la a vencer a
doença. Todo dia visualizávamos o tumor encolhendo e só falávamos coisas
positivas. Eu até colei um cartaz na porta do seu quarto no hospital com os
dizeres: "Se tiver pensamentos negativos, deixe-os do lado de fora."
Nós fizemos um trato que se chamava 50-50. Eu lutaria 50% e ela lutaria os
outros 50%.
Quando o ano letivo começou, eu não tinha certeza se deveria ir para a
faculdade, a quase cinco mil quilômetros de distância, ou ficar com Vicki. Ela
ficou brava por eu ter pensado nessa possibilidade e insistiu para eu não me
preocupar, porque ela ia ficar bem. Ali estava Vicki, deitada em uma cama de
hospital, me dizendo para não me preocupar. Percebi que, se ficasse, poderia
passar a mensagem de que ela estava morrendo e eu não queria que ela pensasse
assim. Vicki precisava acreditar que poderia vencer a batalha contra o câncer.
Ir embora naquela noite, sentindo que poderia ser a última vez que eu
veria minha irmã, foi a coisa mais difícil que já fiz. Na faculdade, nunca
parei de lutar meus 50% por ela. Toda noite, antes de dormir, conversava
mentalmente com Vicki, esperando que de alguma forma ela me ouvisse. Eu
repetia: "Vicki, estou lutando por você e nunca vou desistir. Não deixe de
lutar, porque nós vamos vencer isso."
Alguns meses se passaram e ela continuou aguentando firme. Certo dia,
uma amiga me perguntou sobre o estado de Vicki. Eu disse que ela estava
piorando, mas que não desistia. Minha amiga, mais velha e experiente, fez uma
pergunta que me deixou pensativo:
Será que ela estava certa? Será que eu era egoísta por encorajar Vicki
a continuar lutando? Naquela noite, antes de dormir, tentei transmitir uma
mensagem diferente para ela: " Vicki, eu entendo que você está sofrendo
muito. Se preferir descansar, faça isso. Desistir não é perder. Se você quiser
ir para um lugar melhor, eu entendo. Vamos ficar juntos de novo. Eu te amo e
vou sempre estar com você."
Na manhã seguinte, minha mãe telefonou bem cedo para avisar que Vicki
tinha morrido.
JAMES MALINCHAK
Do livro: Histórias para aquecer o coração dos adolescentes
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